segunda-feira, 30 de maio de 2016

Resumo de Ramos, para quem não conhece os graves problemas do bairro


De forma a deixar clara as mazelas do bairro de Ramos, na Cidade Maravilhosa, ou como chamam agora: Cidade Olímpica, ou mais tradicional: São Sebastião do Rio de Janeiro; fizemos um resumo do que fingem ignorar neste que é o tradicional reduto do que mais gera receita no município: o samba. 
A locação do Cacique de Ramos e da Imperatriz Leopoldinense e nosso bairro criam uma dicotomia do esmero da Prefeitura em cuidar deste patrimônio imaterial que não se reflete no patrimônio material do nosso bairro.

Capitulo 2: Meio Ambiente em Ramos


Inserido numa das áreas de ocupação mais antigas da cidade do Rio de Janeiro, o grande adensamento de ocupação do solo e a falta de política ambiental clara na região acabou gerando uma das áreas de menor cobertura vegetal disponível do município, em contradição ao grande indicador residencial de uso do solo:

Estatísticas de Uso de Solo com técnicas de geoprocessamento - Fonte: Inst. Pereira Passos - Prefeitura do Rio de Janeiro (2013)
Na figura acima, vemos que a Área de Planejamento 3, onde Ramos está inserido, possui apenas 7,74% de áreas verdes de toda sua área, pior em proporção até do que a Área de Planejamento 1, que trata do Centro do Rio.
Observa-se também que 62,10% da área da AP3 é ocupada por residências, e quando subtrai-se a área não ocupável (afloramentos rochosos, bacias sedimentares, entre outros) o número sobre para 83,87%, ou seja, é a região a maior proporção de área residencial do Rio de Janeiro
Mas e a contribuição de Ramos nesta pequena parcela de áreas verdes da AP3? Quebramos a Área de Planejamento 3 em Regiões Administrativas, e nossa realidade piora:

Distribuição de áreas verdes da Área de Planejamento 3 por Região Administrativa
Observamos a pífia participação da X RA de Ramos nas estatísticas, cabendo a contribuição de áreas militares da Ilha do Governador como a grande parcela de reserva verde da AP3, embora desconexa geograficamente da mesma por ser uma Ilha.

Veja aqui os limites geográficos das áreas de planejamento e das regiões administrativas:


Nesta mesma fonte, o Instituto Pereira Passos da Prefeitura do Rio, conseguimos dados de áreas de lazer da cidade, de 2013, e as estatísticas de correlação entre lazer e área verde se confirmam paraRamos:

Ramos, entre os 162 bairros cariocas, é 140º pior bairro em proporção de área residencial (demanda) x áreas destinadas ao lazer (oferta), em 2013
Na escala de áreas de planejamento, o Censo Populacional 2010 do IBGE comparado as áreas de lazer, chegamos a seguinte informação:

zona norte, mais especificamente a Área de Planejamento 3 (onde a zona da Leopoldina e o bairro de Ramos está inserido), tem o menor percentual de áreas de lazer da cidade (12%), embora 38% dos cariocas lá residam. Já a zona sul possui 20% das áreas de lazer com apenas 16% da população. A zona oeste tem 60% das áreas de lazer e 41% da população carioca. Isto tudo sem contabilizar as praias enquanto areas de lazer, onde sabemos que a zona oeste e sul as possui, enquanto as da zona norte, atendidas pela Baia da Guanabara, não tem condições de balneabilidade devido a poluição.

Fontes:
http://portalgeo.rio.rj.gov.br/mapa_digital_rio/?config=config/ipp/usosolo.xml
http://portalgeo.rio.rj.gov.br/mapa_digital_rio/?config=config/ipp/basegeoweb.xml

http://cidades.ibge.gov.br/xtras/perfil.php?codmun=330455

E não bastando os dados do IPP (Inst. Pereira Passos) mostrando esta carência, para a construção do BRT - Transcarioca, outro órgão da Prefeitura do Rio de Janeiro ratificou com análise de campo o que as estatísticas já diziam:

"As praças, segundo os dados do IPP, são o tipo de espaço público mais comum nos bairros estudados, nas quais a população pode encontrar brinquedos infantis, quadras de esporte, bem como realizar atividades de comunhão social. A ausência de parques em todos os bairros e a ausência de jardins em Ramos, Olaria e Penha - bairros densamente habitados - nos revela que as praças são os espaços fornecidos pelo Estado para a socialização. No entanto, essas ainda se mostram em quantidade insuficiente, considerando as necessidades locais. " 

Secretaria Municipal de Obras Coordenadoria Geral de Obras 5ª Gerência de Obras
http://www.poiesiseditora.com.br/sites/g/files/g488012/f/201312/RAS.TRANSCARIOCA.Etapa2_.2011.pdf

E a realidade continuava a acumular notícias ruins sobre para a região:

Evolução das Ilhas de calor no Rio -  VozeRio 10/2015


"Segundo Lucena, para comprovar este efeito, basta prestar atenção em quais são as áreas mais quentes da cidade: todas estão próximas a grandes vias.
Este é o caso das áreas ao redor da Avenida Brasil, como Leopoldina, Caju, Manguinhos, Bonsucesso, Olaria, Irajá, Costa Barros e Deodoro"

Geógrafo Andrews Lucena, professor da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ)
Fonte: http://vozerio.org.br/Rio-70-graus


"Mas, em um país marcado pela histórica desigualdade social, nem o calor é democrático. Em bairros mais nobres do Rio, a temperatura média do solo (registrada por satélite) pode ser cerca de seis graus mais baixa do que os índices registrados na região com o menor IDH (Índice de Desenvolvimento Humano), o Complexo do Alemão."

Leia mais: http://extra.globo.com/noticias/rio/areas-mais-carentes-do-rio-tem-temperaturas-mais-altas-aponta-estudo-18441075.html#ixzz4ABjr4rpW

Promessas, ah! as promessas:


Com todas estas informações disponíveis, a Prefeitura do Rio nos últimos 8 anos trabalhou muito e... não mudou ou piorou o cenário!

Vejamos as promessas de áreas de lazer, arborização e implantação de ciclovias para redução de emissão de poluentes, um dos fatores que contribuem para as Ilhas de Calor:

Ciclovias:
"Previsto no Planejamento Estratégico da cidade e no Dossiê de Candidatura dos Jogos Olímpicos e Paralímpicos, o programa vem tendo por base o crescente fortalecimento do uso da bicicleta na cidade de 20 anos para cá. Atualmente, cerca de 4% dos deslocamentos de curta e média distância – cerca de 1 milhão de viagens/dia – são feitos por esse meio de transporte, superando o número de usuários dos trens e barcas. Iniciado em 2009, a partir de uma rede já implantada com 150Km de ciclovias, ciclofaixas e faixas compartilhadas, o programa tem como meta implantar até o final de 2016 mais 300km. A intenção é que, no ano de realização dos Jogos, a rede de ciclovias esteja integrada aos demais modais de transporte, interligando as regiões do evento e, dentro de cada uma delas, as respectivas instalações. O programa também prevê a Plano de Gestão da Sustentabilidade 25 implantação de estações de guarda e empréstimos de bicicletas em vários pontos da cidade e fomento da cultura do uso da bicicleta como meio de transporte. Indicadores de desempenho: quilometragem implantada, número de viagens, toneladas CO2 evitadas."


Isto conciliado ao Plano Estratégico da Prefeitura do Rio de Janeiro 2009 - 2012: 

"Há um grave desequilíbrio no nível e dinamismo econômico entre as diversas regiões da cidade (Barra x zona da Leopoldina, por exemplo)


Fonte: http://www.riocomovamos.org.br/arq/planejamento_estrategico.pdf

Nos dava muita esperança! Afinal, Ramos é um dos bairros que é margeado pela principal fonte de CO2 da cidade: Av. Brasil, e ainda contávamos com uma grande parcela de população que realmente tem necessidade de uso de bicicletas:

A realidade financeira dos ciclistas

"Engana-se quem pensa que os ciclistas brasileiros são ativistas de classe média alta e pessoas que usam a bike por lazer e aproveitam as ciclofaixas. No Brasil, a bicicleta é um meio de transporte relevante para a população mais pobre, aquela que muitas vezes fica de fora das políticas de mobilidade urbana."


Perfil do Ciclista - ONG Transporte Ativo
Fonte: https://www.nexojornal.com.br/expresso/2016/01/24/Esque%C3%A7a-os-estere%C3%B3tipos.-Saiba-quem-de-fato-usa-a-bicicleta-no-Brasil

E realmente foi um fato também para o Rio de Janeiro o escrito na matéria sobre a exclusão das políticas de mobilidade urbana: 
O mapa mostra em vermelho a região que não possui qualquer estrutura cicloviária, AP3, onde Ramos se insere, mais uma vez destaca-se pela exclusão.
Fonte população: IBGE - Censo 2010

Voltando as áreas verdes ou de lazer, as promessas em notícias:


"Paes reforçou que a implantação será gradual e levará benefícios à população local. "Uma área inacessível, detonada, degradada da cidade foi transformado em um lugar onde a mobilidade está totalmente facilitada. Não se faz só a implantação das estações do BRT, faz drenagem, qualifica, faz calçadas, implanta praças, área de lazer", disse."

http://g1.globo.com/rio-de-janeiro/noticia/2014/05/paes-testa-brt-transcarioca-dois-dias-antes-de-inauguracao-com-dilma.html

" Em nota, a Secretaria municipal de Obras informou que a implantação do Parque Madureira reduziu em três graus a temperatura da região. De acordo com o órgão, a prefeitura realiza “ações a fim de reduzir a sensação térmica na cidade” e que a implementação dos BRTs é acompanhada pela reurbanização das regiões em torno e do plantio de árvores."
http://extra.globo.com/noticias/rio/verao/obras-no-rio-elevam-temperatura-do-solo-em-vinte-graus-15065781.html


Mas os fatos foram diferentes. Lembram que o bairro de Ramos estava em 140ª posição em relação a área residencial x disponibilidade de áreas de lazer em 2013? Que o diagnostico em campo da Secretaria Municipal de Obras dizia que não havia Parques e Praças o suficiente para a população?
Este foi o "Legado Olímpico" no bairro:


Com praças inutilizadas, moradores de Ramos ficam sem opções de lazer
Quatro espaços foram desativados por causa das obras do BRT Transcarioca

Moradores de Ramos, na Zona Norte do Rio, ficam sem área de lazer após obras do BRT



Árvores não foram replantadas em Ramos
Moradores alegam que elas foram cortadas para obra de BRT; secretaria nega
http://oglobo.globo.com/eu-reporter/arvores-nao-foram-replantadas-em-ramos-17845963#ixzz3pPZICBa3


Ou seja, em 2016, após o BRT Transcarioca, o que era ruim piorou nesta parte esquecida da Cidade "não maravilhosa" ou "não olímpica". Talvez não fosse injusto dizer, que esta região estava melhor antes das Olimpíadas...



quinta-feira, 31 de março de 2016

Preconceito Geográfico

Senhores,

gostaria de compartilhar fatos que não causam estranheza mais para sociedade carioca, e que neste caso, me aumenta a estranheza...

Um novo padrão de preconceito se propaga na cidade do Rio de Janeiro, o Preconceito Geográfico! Isto ocorre quando o administrador municipal oficialmente desiste de exercer seu papel em determinados bairros e se empenha muito em outros.

Trago uma ilustração que deixa claro como funciona:



Esta diferença gritante entre bairros da mesma cidade, que receberam o mesmo "Legado Olímpico", sendo a obra única, conduzida pela mesma Secretaria de Obras, durante a mesma gestão municipal,  e que caracteriza o Preconceito Geográfico em sua essência, pois deixa claro que nem todos cidadãos cariocas são iguais perante ao poder publico municipal.

Até mesmo declarações públicas são feitas, sem nenhum pudor! Vejam esta declaração feita sobre terem mudado o Pátio Olímpico (e o principal legado que deveria ocorrer para o Rio) da Ilha do Fundão, na zona norte (próximo ao bairro de Ramos), para a zona oeste, na Barra:

"É claro que a mudança do projeto para a Barra foi essencial e que as transformações feitas na cidade já são visíveis. Gosto da frase do Carlos Arthur Nuzman (presidente do COB) sobre as alterações: agora, vamos receber os visitantes na sala. "

Ainda nesta matéria declara-se que existe um grave problema de infraestrutura há 20 anos atrás que perdura até hoje! Ou seja, era um problema para as Olimpíadas? Esconda da mídia internacional! Não resolva! A população carioca da região não é importante! Pior: transforme a única obra olímpica que esta mesma região teve em problemas!

Com 39km de extensão e 47 estações, a Transcarioca passa por 27 bairros que ganharam, como consequência das obras do corredor, uma verdadeira transformação. Calçadas e pavimentação novas, reestruturação no sistema de drenagem, melhoria na iluminaçãopassarelas e novos semáforos foram algumas das mudanças em bairros como Vicente de Carvalho, Vaz Lobo, Madureira, Campinho, Jacarepaguá, Penha e Ramos."
http://www.cidadeolimpica.com.br/orgulho-da-transcarioca/

Vamos ver a nova calçada:

Onde estaria a calçada, com este projeto de passarela?

Por que o morador de Ramos pode conviver com um projeto assim? Seria na Barra cabível uma obra destas?

Detalhes: http://extra.globo.com/noticias/rio/passarela-construida-muito-perto-de-predio-residencial-no-rio-18958722

Nesta foto é possível ver o reestruturado sistema de drenagem do BRT Transcarioca, em Ramos - Rua Emílio Zaluar
Quando seco, possível ver a calçada onde cabe um poste, uma papeleira e... mais nada
Neste ultimo caso, a promessa de que a fiação seria subterrânea (ou submarina?) ao longo do corredor BRT Transcarioca não deve ter sido valido para Ramos.

Quem passa pelo Transcarioca nem percebe, mas, por baixo dos quase 40 quilômetros de pista de via exclusiva de ônibus, há seis dutos de 75 milímetros quadrados. Chamados de dutovias, os compartimentos gigantescos subterrâneos foram colocados durante a obra do corredor e serão a nova ‘moradia’ de cabos de concessionárias de serviços (...). “Não vamos mais aceitar que os cabos que forem instalados sejam na superfície. Agora, tudo terá que ficar nas dutovias”
Secretário municipal de Conservação, Marcus Belchior Corrêa


Por que será que acreditamos que na Barra isto realmente aconteceu?

Parafraseando o então candidato à Prefeito e hoje responsável pela acima descrito, será que "Somos um Rio"?